O meu filho mais velho tem agora 10 anos. E há cerca de três surpreendeu-nos com perguntas sobre o que era o dinheiro e para que serviam as poupanças. E foi nesse exato momento que eu e o meu marido começamos a falar entre nós sobre como lhe iríamos ensinar o que era o dinheiro, se seríamos nós a pagar-lhe a faculdade, e se deveríamos começar a dar-lhe uma mesada. Porque se ele tinha dúvidas, então estava na hora de começar a explicar-lhe qual é afinal o valor do dinheiro. Mas falar sobre dinheiro com crianças não é pêra doce, exige paciência – acredita!
Mesmo que certas decisões estejam distantes, como a ida para a faculdade, certo é que na cabeça dele já existiam perguntas sem resposta. É certo que já tínhamos uma conta poupança em seu nome, mas ele desconheci-a e nem fazia ideia do seu propósito. Ouvia-nos falar de dinheiro, cartões, poupar… mas soava-lhe certamente a jargões de adultos.
E todos sabemos que não é na escola que se aprende o que é, por exemplo, um cartão de crédito ou para que serve uma conta poupança. Se queríamos dar-lhe as melhores oportunidades na vida, então explicar o que é o dinheiro e como o usar, era um ponto de partida. Até porque pesquisas mostram que crianças que crescem em lares onde o dinheiro não é um assunto tabu, conseguem fazer uma melhor gestão das suas finanças ao longo da vida.
Eis os conselhos que te posso deixar sobre como falar sobre dinheiro com crianças, como nós os aplicámos e que materiais usamos para nos auxiliar:
Começa de forma simples
Devemos começar a falar sobre dinheiro com as crianças mais cedo do que achamos ser a altura ideal. E não, não se trata de uma conversa única. Devemos nós adultos, modelar o comportamento que gostaríamos que eles adotassem. Não é suficiente conversar com as crianças sobre como fazer escolhas inteligentes e poupar dinheiro para grandes compras – temos que fazer isso efetivamente, porque sabemos que estamos a ser constantemente observados por eles e irão refletir os nossos comportamentos. E o mais importante: devemos abordar o tema conforme a sua idade. Aliás, de nada adianta explicar o valor do dinheiro a uma criança que ainda não aprendeu a contar, por exemplo.
O nosso filho começou a fazer perguntas quando tinha 7 anos. Mas antes disso já nos ouvia a decidir entre dois produtos, quando estávamos a fazer as compras de supermercado. Por isso, uma dica que te quero dar é que não guardes o processo de tomada de decisão apenas na tua cabeça. Dá ao teu filho uma ideia do que estás a fazer: “Esta marca é ótima, mas é 2€ mais cara. Será que devemos comprar a marca mais barata e experimentá-la?” Ao fazeres isto estás na verdade a ajudar o teu filho a entender as trocas que fazemos com o dinheiro nas atividades do nosso dia-a-dia.
Outra das melhores formas de explicar o que é o dinheiro e como geri-lo é através de livros e jogos. No final deste artigo encontras algumas sugestões que te podem ajudar nesta grande aventura que é a literacia financeira para crianças.
Ajuda-os a entender o que são objetivos
Como o dinheiro é um conceito tão abstrato, faz parte do nosso trabalho, enquanto pais e encarregados de educação, fornecer maneiras concretas para que os nossos filhos entendam o que é o dinheiro. Posso sugerir uma atividade de definição de metas que poderás experimentar com os teus filhos, a partir dos 5 anos. Assim que eles entenderem que usamos o dinheiro para pagar as coisas, também serão capazes de entender esta atividade.
No nosso caso, demos ao nosso filho, com 7 anos na altura, uma folha A4 branca e pedimos-lhe que ele desenhasse algo que queria muito. Assim que terminou, dissemos-lhe que ele seria capaz de o comprar com o seu próprio dinheiro dali a 6 meses. Ao poupar conseguiria comprar o que tanto queria. E de seguida, colocamos o desenho numa moldura simples do IKEA e ficou exposta na mesa de cabeceira dele junto ao seu porquinho mealheiro – desta forma conseguia ter um lembrete diário do seu objetivo.
A mesada
Quando eu era criança, os meus pais sempre foram contra o termo “mesada”. Algo que na altura eu não compreendia porque todos os meus amigos recebiam. Eu nunca deixei de ter nada do que pedia, e sim era-me explicado o valor de cada coisa – mas não recebia mesada e recordo-me que isso me deixava frustrada.
Só anos mais tarde, em conversa com os meus pais, percebi a lição que me queriam dar.
Enquanto os meus colegas recebiam uma mesada por ajudarem os pais nas tarefas de casa, ou a troco de boas notas, os meus pais nunca o fizeram. Eles entendiam que a casa era de todos nós, o nosso lar, e por isso todos tínhamos o dever de ajudar nas tarefas. E que as notas que tiramos eram o resultado do nosso empenho e por isso não deveríamos receber dinheiro por conseguir uma boa nota. Sempre nos disseram, a mim e aos meus irmãos, que teríamos muito tempo para receber dinheiro em troca de tarefas executadas ou prémios em troca de performance quando fossemos adultos – e não é que tinham toda a razão?!
E ao falar com o meu marido sobre isto, ele prontamente concordou. Então escolhemos não dar uma mesada ao nosso filho em troca de tarefas executadas em casa ou de boas notas na escola.
O que optamos por fazer é dar-lhe dinheiro para aprender a geri-lo de forma simples, sem pedir nada em troca. Ele adora ler livros, então a ideia surgiu a partir daí. Na altura com 7 anos, recebia um valor para poder comprar 3 livros por mês e dessa forma aprendeu a gerir o seu dinheiro. Caso quisesse gastar num brinquedo, o dinheiro não seria suficiente para comprar mais livros nesse mês ou o tal brinquedo que ele desenhou. E foi aí que foram entrando outros ensinamentos, como por exemplo, idas à biblioteca requisitar livros como forma de poupar dinheiro. Vender certos livros ou brinquedos escolhidos por ele e que nós colocávamos no OLX, e ainda doar o que já não queria a outras crianças.
“Estou grato por…”
Uma coisa que me afligia na altura era ideia de que dar tudo o que ele queria, poderia não resultar da melhor forma. Pensava muitas vezes se não o tornaria numa criança mimada. Queríamos que se sentisse agradecido por aquilo que tinha e que continua a ter. Não dando como exemplo “deverias estar grato porque outros meninos não tinham o que ele tinha” – honestamente odeio essa comparação, mas simplesmente para que tivesse consciência que por vezes não podemos ter tudo o que queremos. Devemos agradecer o que temos hoje, por pouco que seja, pois amanhã podemos já não ter.
Como já sabia escrever, pedimos-lhe que escrevesse notas de gratidão. Não só sobre os bens materiais que tinha, mas o que sentia quando recebia ou não o que queria, e porque isso já não o deixava triste. Funcionou como uma forma de auto-regulação e autoconhecimento dos seus próprios sentimentos e de afastar a frustração. Acho que este conselho é um dos que mais dou às minhas amigas quando o tema é falar sobre dinheiro com crianças.
Abraçar os erros
Quando estamos a ensinar e a falar sobre dinheiro com crianças, haverá choro e birras pelo caminho. Nem sempre é fácil entenderem que o dinheiro não se multiplica no porquinho mealheiro. Em vez de ensinar as crianças a evitar ou esconder os erros, é importante ensiná-los a responder ou agir conforme as suas ações. É importante que a criança perceba que ao ter gasto toda a sua mesada num brinquedo este mês, não conseguirá comprar mais nada. Mas que, se no mês seguinte, conseguir gerir melhor, então terá uma nova oportunidade de comprar o que quer.
Três anos depois do início desta aventura, posso dizer que tem sido um prazer ver uma criança que está a crescer sem ter aversão ao dinheiro e que o trata com o devido respeito. O meu filho começou por partilhar com os amigos como fazia a gestão do seu próprio dinheiro e a professora pediu-lhe para fazer uma apresentação, de forma a explicar à turma como foi o mês dele, como poupou e o que comprou. Deixou-nos muito orgulhosos por sabermos que outros colegas e as suas famílias estão a seguir este exemplo.
Lembra-te que o maior ensinamento que podemos dar aos nossos filhos sobre dinheiro é que as escolhas que fazemos com o nosso dinheiro vão refletir-se no nosso futuro. Não importa se apenas podes entregar ao teu filho, dois euros ou dez para que ele faça a sua própria gestão, o que importa é o exemplo que lhe estás a dar.
Livros e jogos para ajudar a explicar o que é o dinheiro às crianças:
– E que nos ajudaram a falar sobre dinheiro com o nosso filho.
Livro “Guia Para Curiosos Sobre o Dinheiro”
O livro “Guia para Curiosos sobre o Dinheiro” está cheio de definições simples, exemplos práticos e ilustrações engraçadas que facilitam a compreensão do mundo das finanças. Aqui poderão aprender as noções básicas de como lidar com o dinheiro, incluindo ganhar, poupar, gastar e partilhar.
Idade recomendada: + 8 anos
Jogo de Tabuleiro Grátis sobre Poupança
Este jogo de tabuleiro grátis do Doutor Finanças, consiste numa autêntica viagem pelos caminhos da poupança. Estes caminhos, que nem sempre vão ser fáceis, vão desafiar os seus jogadores a ultrapassar obstáculos e a provar que são autênticos conhecedores da importância da poupança.
Idade recomendada: + 6 anos
Caixa Registadora em Madeira
Esta caixa registadora em madeira vai ajudar os mais pequenos a perceber o que é um cartão de débito ou crédito, o conceito de notas e moedas.
Idade recomendada: + 3 anos
Jogo de Tabuleiro Monopólio Júnior
Todos já conhecemos o Monopoly. Mas esta versão é o jogo ideal para que as crianças possam experimentar este clássico de compra e venda de imobiliário e como a gestão do dinheiro nos pode tornar ricos ou levar à falência.
Idade recomendada: + 5 anos
Livro “Doutor Finanças e a Bata Mágica”
O “Doutor Finanças e a Bata Mágica” é um livro infantil que tem como propósito ensinar as crianças a poupar através do método “Gastar, Guardar, Ajudar”. Com mealheiros de papel para recortar e colar e repleto de diversas atividades sobre literacia financeira infantil.
Idade recomendada: + 6 anos