Certamente já deves ter lido notícias, ou visto vídeos no TikTok sobre esta tendência “Quiet Quitting”. E se vens à procura de respostas para perguntas sobre o que é o quiet quitting, que benefícios tem e como por em prática? Então estás no sítio certo.
Deixa-me começar por dizer que eu amo o meu trabalho e talvez te sintas como eu: apaixonada por aquilo que fazes, inspirada pelos colegas e com uma sensação de satisfação quando fechas o computador no final do dia. Mas então o que me faz ficar menos entusiasmada quanto ao meu trabalho? A verdade é que já não sinto que faço parte daquele grupo de mulheres que tinha que provar algo (muitas vezes exigido pela sociedade) e por isso ficava horas a mais no trabalho – um fenómeno cultural que definiu o meu início de carreira.
E, claro, durante uma pandemia onde existiu efetivamente uma mudança de cultura, chamada de A Grande Demissão ou “The Great Resignation” nos Estados Unidos, a inflação a instalar-se em todo o Mundo , assim como as taxas de burnout a aumentarem significativamente, estamos todos um pouco cansados, não estamos?
E ao pesquisarmos o termo “quiet quitting” no TikTok percebemos ainda mais sobre esta trend e porque começou.
Sem dúvida que pode ser um tema controverso, sobretudo para diversas gerações ou para as próprias empresas. Por isso, quero explicar o que é afinal o “quiet quitting”, porque está a ser tão falado, e como podemos adoptar os seus princípios ajudando-nos a alcançar um pouco do equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal que queremos há anos… na verdade, há gerações.
O que é quiet quitting ou “desistência silênciosa”?
Quiet quitting ou desistência silênciosa em português, pode resumir-se a uma tendência que se tornou viral nas redes sociais e que quer acabar com a ideia de que o trabalho é tudo na nossa vida. Não é um exagero dizer que neste pós-pandemia temos ouvido falar de “bem-estar mental” como quem diz um “bom-dia”, pois passou a fazer parte do nosso léxico diário. E não é à toa que tudo o que tem acontecido nos Estados Unidos acabe por ter consequências por cá – positivas ou negativas. Mas e o que podemos aprender com isso?
Na verdade, quiet quitting é quase que como uma rebelião contra a cultura tóxica do trabalho. Se por um lado temos visto o número de despedimentos aumentar, a lógica de pensamento seria – vamos agarrar-nos ao nosso emprego, trabalhar ainda mais horas e aceitar tudo o que nos dizem… Mas a troco de quê, de um aumento salarial? Hmm… diria que não me parece, tendo em conta o estado atual da economia do nosso país. Pois bem, resta-me concluir que será a troco de nada – ou talvez a moeda de troca seja mesmo o burnout.
Quiet quitting, ou “demissão silenciosa” vem trazer à tona a noção de que: se apresentar demissão ou trocar de trabalho não é uma opção, então o que podemos fazer para sair deste labirinto?
Como tudo começou?
Diz-se que foi o vídeo de Zaiad Khan, que se tornou viral no TikTok, que fez explodir este tema. Nele explica que a demissão silenciosa não é uma demissão propriamente dita, mas sim um abandono da ideia de fazer mais do que aquilo que já fazemos diariamente e que nos pode levar à exaustão.
Ou seja, o que quer transmitir é que devemos continuar a cumprir os nossos deveres e tarefas, enquanto trabalhadores, mas deveríamos deixar de subscrever a mentalidade a que fomos expostos desde cedo: precisas de entregar sempre mais todos os dias.
O que é interessante, porém, é que mais vídeos têm surgido e abordam diferentes ideias de pensamento quanto ao que é (ou deve ser) a demissão silenciosa. É o caso do Coach de Carreira, Bryan Creely, que no seu vídeo começa por questionar “Odeias o teu trabalho, mas não queres sair? Então sê preguiçoso”.
Mas será esta a melhor opção? Na minha opinião, isso pode mesmo levar ao despedimento. Fazer o mínimo no nosso emprego irá afetar diretamente a nossa posição na empresa. Porque se somos medidos por resultados, entregar apenas o mínimo será suficiente? Honestamente, não me parece. Será que, se todos nos comportamos assim haverá, num futuro próximo, empresas para nos contratar?
Eu identifico-me com a abordagem de Khan, e pelos vistos não sou a única. Ele encontra uma maneira de trazer o tema da demissão silenciosa para discussão de forma leve, onde nos indica que devemos priorizar a nossa saúde mental. Lembra-nos ainda que o nosso valor como pessoa não é definido por aquilo que produzimos, ou não, no local de trabalho.
Os prós e os contras do quiet quitting
Porque é visto como benéfico?
Se é verdade que tantos temas se tornam virais, sinto que este está a receber uma atenção desmesurada. Podes estar-te a perguntar, mas porquê? Talvez porque fomos, durante décadas, condicionados a ter uma vida onde o trabalho era o nosso “holy grail” e que deveríamos lutar por um emprego de sonho, aguentar as horas extras, um patrão abusivo… e isto porque precisamos de trabalhar. Mas será que tem de ser assim?! O despedimento silencioso quer acabar com isso e chama a atenção para que te ponhas sempre em primeiro lugar. Tal como te expliquei, a ideia não é apresentares a demissão, se não é isso que queres fazer. Em vez disso, o termo apela a que passemos a fortalecer a nossa vida profissional estabelecendo limites, e alerta para uma escolha ativa onde não continuemos a ceder ao perfeccionismo e entregar demasiado apenas porque “é comum e todos o fazem”.
Certamente já passaste por esta experiência: São 18h, terminaste o teu dia, dizes um “até amanhã” aos teus colegas. E já com um pé na porta, ouves: “Já te vais embora?”.
A cultura laboral em Portugal, e não só, diz-nos que “fica bem” não sair à hora certa (apesar de estarmos a cumprir o nosso horário de trabalho). E cedemos a essa pressão dissimulada, acabando por ficar mais 30 minutos ou até mais 1 hora “se for preciso”. O patrão agradece e ficas bem visto perante os colegas – mas será que é mesmo assim? Ou estás apenas a perpetuar uma cultura empresarial tóxica?
O que a desistência silenciosa quer trazer à tona, é que sejamos capazes de tornar o trabalho em algo que faz parte da nossa vida, e não o centro da nossa existência.
No entanto…
A verdade é que este movimento não será um hino para todas as gerações e percebo que nem todos possam aderir ou sequer entender. Afinal, é cultural e está enraizado que devemos entregar sempre mais e ficar até mais tarde, se queremos manter o emprego. Mas se uns tem vindo a aderir à desistência silenciosa, o que será feito dos outros, quando a carga de trabalho na empresa não diminuir – chegarão sequer a dormir?
Sim, poderei ter exagerado, mas dá que pensar não dá?!
A nova série da Netflix, “Nos Bastidos da Ascenção”, conta-nos a experiência uma mulher, Ingrid Yun, e que fazendo parte de uma minoria étnica – única naquele escritório – sabe que tem que trabalhar mais do que qualquer um dos seus colegas (em grande parte homens e em grande parte homens brancos) para receber um fragmento do reconhecimento que seria esperado. E porque Ingrid diz que “não se pode dar ao luxo” de parar de trabalhar? Será ela deixada para trás com todo o trabalho quando os outros funcionários optarem por uma vida mais equilibrada?
Dei este exemplo, não só porque estou a adorar a série, mas também para mostrar um outro ponto de vista. Muitas vezes, seja por causa da etnia, do gênero, ou mesmo pela idade avançada, podemos pensar que recuar ou simplesmente não fazer o que é pedido, é um luxo que não nos será concedido. Então, o que é que a demissão silenciosa significa para os funcionários que não se podem juntar à maioria da Geração Z (Gen-Z) – que escolhem ver-se para além do seu trabalho – se a sua situação sócio-cultural, nada vantajosa, não lhes permitir isso? Talvez ainda estejamos no princípio de um grande debate.
Como por em prática a “desistência silenciosa” no emprego?
Certamente que um artigo não é suficiente para abordar este grande tema, no entanto, quero partilhar contigo algumas dicas fundamentais sobre o fenómeno “quiet quitting” que podes colocar em prática na tua vida laboral. Se não estás feliz no teu emprego, se sentes demasiada pressão para cumprir prazos e te é pedido regularmente para ficar até mais tarde, mas despedires-te ou mudar de emprego não é uma opção, então é aqui que a demissão silenciosa pode ser um trunfo para que consigas construir uma vida profissional mais saudável. E para começares de uma forma suave, sem colocar em causa o teu futuro na empresa, aplica estas 4 dicas:
Define os teus limites e prioridades
Definir limites não se aplica somente ao teu trabalho, é fundamental que os definas também na tua vida pessoal, familiar e amorosa. Os limites são a chave para travar os excessos na tua vida, tornar as tuas necessidades ouvidas e garantir que estás a dar prioridade ao que faz sentido para ti. Dica: estabelece os teus limites laborais, mas certifica-te que os comunicas claramente aos teus colegas e superiores. Afinal, qual o sentido de teres limites traçados se os outros não têm sequer conhecimento deles?
Como Estabelecer Limites Saudáveis no Trabalho?
Abandona o perfeccionismo
Embora a desistência silenciosa seja legitimamente rotulada como uma recusa em ceder à cultura tóxica no ambiente de trabalho, também é uma boa prática a ser levada a cabo por quem se identifica como “sendo perfeccionista”. Se, tal como eu, te consideras uma perfeccionista, dá um passo atrás e reflete sobre as expectativas que colocas em ti mesmo quando o assunto é trabalho. São expectativas realistas? Estão alinhadas com as metas e objetivos da tua equipa e da empresa? Esta também pode ser uma boa oportunidade para conversar com o teu superior e garantir que estás alinhada com o que é esperado da tua função. Talvez estejas a exigir demasiado de ti, sem necessidade de o fazeres. Porque, como muitos de nós sabemos, o perfeccionismo muitas vezes não é nada mais do que o negativismo interno que se apodera de nós.
Redefine a palavra “falhar”
Seguindo a dica que te dei anteriormente, é importante tomarmos consciência que exigimos demasiado de nós próprias. E o mesmo acontece quando sentimos que fracassamos. Mas a verdade é que nem todas as falhas são iguais, muitas vezes são as melhores oportunidades que temos para aprender, melhorar e com isso crescer. Pensa na última vez em que consideraste algo como sendo um fracasso no trabalho: o impacto das tuas ações foi proporcional ao quanto realmente achas que falhaste? Talvez a verdade seja bem diferente do que estavas à espera e, mesmo que não seja assim, provavelmente tiraste alguma aprendizagem positiva da experiência e da próxima vez farás de outra forma.
Recorda-te do teu valor
Sim, tu és suficiente. Aliás, mais do que suficiente. Como alguém cujo trabalho é guiado mais por prazos do que por cumprir um certo número de horas, isso levava-me a perguntar se o que fiz foi suficiente, se seria a pessoa que procuram tendo em conta o que entreguei.
O que quero que percebas é que o que entregas diariamente no trabalho e os objetivos que atinges, não te devem definir enquanto pessoa – apenas enquanto trabalhadora. E jamais deveriam definir a tua autoestima. Podes estar a pensar: “Isso é mais fácil dizer do que fazer”, mas então eu respondo-te dizendo que se o fazes atualmente, ou seja, se pões em causa o teu valor, é porque te comparas aos teus colegas. E acredita, essa comparação não deve ser motivo de orgulho. Comemora as tuas vitórias, reconhece os teus pontos fortes e lembra-te que aquilo que fazes profissionalmente é apenas uma pequena parte de espectro bem maior e tão mais significativo.
Mas será que vale a pena aderir ao quiet quitting?
Tenho em mim, que este tema não ficará por aqui, e por um lado é um sinal positivo de mudança. No meu entender, a desistência silenciosa ou “quiet quitting” é a liberdade que ganhamos quando percebemos que podemos e devemos sair à hora certa (não cinco minutos depois), sabendo que não é o trabalho que nos define enquanto pessoas. Este fenómeno veio provar que uma cultura empresarial saudável é importante para o nosso bem-estar diário, e que só quando atingimos esse balanço positivo entre o trabalho e a vida pessoal, conseguimos tornar-nos melhores pessoas, pais, filhos, colegas, e empregados. E não é isso que todos queremos, no final do dia?
Esta ferramenta pode ser uma grande ajuda se estás a pensar mudar de emprego ou de carreira. É um Workbook com + de 150 perguntas e exercícios aprovado por uma Coach de Carreira certificada pelo ICF.
Recomendo
E já que falamos no tema do mundo do trabalho, e como somos incutidos desde pequenos: a arranjar “um bom” emprego, a trabalhar para ganhar dinheiro e sujeitar-nos a muita coisa a fim de não ficar desempregado.
Recomendo-te que leias o livro que me fez mudar a minha forma de pensar quanto ao mundo laboral e quando à dependência do dinheiro – “Rich Dad Poor Dad” de Robert T. Kiyosak. Este livro levou-me a perceber que antes vivia para trabalhar, apenas para receber um ordenado ao final do mês, pagar contas e sempre em busca de um aumento – um tipo de escravidão moderna.
Provavelmente revês-te no que escrevi e por isso deixo-te esta premissa: trabalhas para receber o teu vencimento e pagar contas? Se a resposta foi sim, então recomendo que leias este livro, acredita não te vais arrepender.
E já que falamos no tema do mundo do trabalho, e como somos incutidos desde pequenos: a arranjar “um bom” emprego, a trabalhar para ganhar dinheiro e sujeitar-nos a muita coisa a fim de não ficar desempregado.
Recomendo-te que leias o livro que me fez mudar a minha forma de pensar quanto ao mundo laboral e quando à dependência do dinheiro – “Rich Dad Poor Dad” de Robert T. Kiyosak.
Este livro levou-me a perceber que antes vivia para trabalhar, apenas para receber um ordenado ao final do mês, pagar contas e sempre em busca de um aumento – um tipo de escravidão moderna.
Provavelmente revês-te no que escrevi e por isso deixo-te esta premissa: trabalhas para receber o teu vencimento e pagar contas? Se a resposta foi sim, então recomendo que leias este livro, acredita não te vais arrepender.